Peixe Betta

Síndrome de peixe Betta quando me sinto entalada, crescendo num aquário de vidro perdido no mar. Síndrome de peixe Betta quando me bato e debato com as paredes transparentes sem achar a saída.
As mesmas pedrinhas de plástico.
Os mesmos fiapos de alga sintética.
Um navio naufragado, quebrado, com um baú cheio de bolhas dentro.

Síndrome de peixe Betta quando retraço os caminhos e itinerários diários pela símples pulsão do movimento obsessivo das pernas, que insistem em percorre-los diversas e consecutivas vezes sem outro propósito aparente.

Síndrome de peixe Betta quando me choco contra todos os espelhos de mim que aguardam nas paredes ou andam pela casa, sendo e dizendo mais e mais de mim. Meus pares pelejam também quando se enxergam refletidos em mim e nos vidros.

Síndrome de peixe Betta ao pensar nos aquários empilhados das grandes cidades submarinas de peixes Betta cerrados em bolhas, pairando no líquido da vida salgado e rico em fitoplâncton, comendo as rações em migalhas folhadas de cores sortidas.

Síndrome de peixe Betta quando vejo a morte descer pela descarga e trazer novo, num saco plástico transparente e cheio de água filtrada, o outro – o próximo Betta que há de se chocar contra os seus reflexos até que seu corpo fique inchado das bolhas e ele também perceba – ou não – que existe um novo peixe Betta se debatendo num saquinho plástico transparente… Se aproximando constante e lentamente.

Deixe um comentário